Carinhosamente chamado de Say Hello, ele estreou em março de 2015, mas começou-se a pensar nele em julho de 2014.
O ano de 2014 foi intenso para nós: o Espaço Cultural Victorio Faccin ficou fechado de janeiro a outubro, em função de uma grande reforma, o que diminuiu drasticamente a nossa demanda de trabalho artístico. Durante esse período não tivemos novas turmas do Curso de Teatro, não houveram muitas apresentações e Por Que Não? estava reduzido a cinco integrantes. Estávamos com todas as energias voltadas para a reforma, fazendo eventos, projetos de crownfounding, passando tudo que entrava no caixa para colocar um teto e um chão novo para o Espaço.
Prevendo que quando a reforma acabaria, estaríamos praticamente começando do zero, surgiu a ideia de fazer um novo espetáculo. Ao mesmo tempo, o mundo tava passando por um momento de popularização de smartphones e o lançamento de muitas tecnologias e aplicativos que atualmente para nós são tão banais, mas que há 4 anos era o crème de la crème - volta e meia nos víamos comentando sobre esse avanço tecnológico e como isso afeta as nossas vidas.
Foi o estalo inicial. Felipe (Martinez, o diretor do Say Hello) somou esses dois fatores e propôs a criação de um novo espetáculo, que fosse criado por nós, incluindo o texto. Isso é o que se chama Dramaturgia Coletiva.
Muitos grupos aqui no Brasil e no mundo trabalham com esse tipo de processo: é quando o texto é formado em conjunto com a criação das cenas, com a colaboração dos atores e do diretor.
Porém, para que todo processo comece tem que haver combustível. Com o Say Hello, as notícias que pipocavam sobre a internet, redes sociais e tecnologias foram o nosso principal combustível - a possibilidade de se ter mais um veículo de comunicação largamente difundido e como nós estamos nos adaptando à essa nova realidade.
Casos de selfies desastrosas, surgimento de jogos com a realidade aumentada, a proteção de uma tela para um desabafo, a criação de uma segunda vida no meio digital que não é nada parecida com a vida real, os maiores medos e segredos abertos em blogs, a rapidez que as notícias são publicadas e compartilhadas, relacionamentos baseados em fotos manipuladas, a disseminação do ódio travestido de opinião... enfim, absorvemos tudo para poder criar as cenas.
O principal ponto do espetáculo Say Hello para o Futuro era juntar essa Era super tecnológica e atual com uma arte tão milenar que é o teatro e ainda assim não perder a essência nem de um e nem de outro. #comofaz
Nos perguntamos: o que faz o teatro ser teatro?
É a relação que temos com o público. Quando estamos assistindo tv, a nossa relação com o que acontece ali é totalmente passiva. Podemos berrar com a tv, que nada do que passa lá será modificado (a não ser que você esteja num link ao vivo). Já com o teatro, com a presença viva do público, essa relação é diferente - se torna ativa. Se você comentar, querer falar com alguém no palco, dependendo do espetáculo, você afetará o andamento do mesmo.
Nos perguntamos: por que esse mundo virtual é tão viciante? O que acontece nele que nos fascinam tanto?
É a possibilidade de falar o que quer, quando quer, o quanto quiser e ser quem quiser e não precisar mostrar o rosto - é a segurança que a distância física dá. Podemos acrescentar que a relação interpessoal é diretamente afetada: como já dizia Zygmunt Bauman* (resumido porcamente por mim), o que chama atenção não é a facilidade de criar novas conexões com as pessoas, é a facilidade em desconectar. Enquanto pessoalmente passamos pelo constrangimento em querer cortar relações interpessoais, na internet é só apertar 'delete' e pronto.
Além disso, a nossa vaidade é hiper estimulada com a facilidade que a tecnologia propõe em expor as nossas vidas.
O Say Hello nada mais é do que o resultado dessa equação: Uma rede social onde participamos ativamente, em tempo real (como a internet) em um ambiente compartilhado abertamente, sem telas (como num teatro).
Com essa miscelânia de ideias, botamos para improvisar e criamos MUUUUUUITAS cenas! Só para ter uma ideia, a primeira vez que passamos todo o espetáculo em ensaio, o Say Hello teve mais de uma hora e meia de duração. Ao invés de descartá-las, fomos deixando guardadinhas, pois, como a internet e todos os os dispositivos eletrônicos, pensamos que o espetáculo também teria atualizações.
Então não era de se estranhar que a cada apresentação, alguma coisa se modificava, uma nova cena era inserida (ou era retirada), uma mudança de figurino e som, até mesmo as falas dos atores se alteravam sem aviso prévio para o público, tornando uma experiência única!
Então não era de se estranhar que a cada apresentação, alguma coisa se modificava, uma nova cena era inserida (ou era retirada), uma mudança de figurino e som, até mesmo as falas dos atores se alteravam sem aviso prévio para o público, tornando uma experiência única!
E foi assim, que no dia 01 de março de 2015, no Espaço Cultural Victorio Faccin, Say Hello para o Futuro entrou no ar e até hoje nos surpreende, nos diverte e nos faz mais conectados com o mundo, procurando cada vez mais entender o quão louco é essa relação sociedade/tecnologia e desvendando o que poderá acontecer em um futuro, não tão distante assim, mas que nos parece tão longe!
O que achou desse processo? Tu já assistiu Say Hello para o Futuro e quer contar um pouquinho da sua experiência pra gente? Comenta aqui embaixo!
Até a próxima!
O que achou desse processo? Tu já assistiu Say Hello para o Futuro e quer contar um pouquinho da sua experiência pra gente? Comenta aqui embaixo!
Até a próxima!
*Zygmunt Bauman (1925-2017) foi um sociólogo e filósofo polonês. Se quiser saber mais sobre o que ele disse sobre essa nova relação entre as pessoas, tem o livro "Modernidade líquida" em que ele aborda esse tema.
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